Quem é o “assassino de Plutão” que agora busca o suposto nono planeta?

A ironia, não a alegria, foi o sentimento que correu entre os cientistas e entusiastas da astronomia após o estudo que apontou “a mais forte evidência” de que o nosso Sistema Solar pode ter novamente um nono planeta. O motivo é que o mesmo responsável por “assassinar Plutão” agora é coautor do estudo que busca instigar a entrada de um novo inquilino longínquo. Seu nome é Mike Brown. Mas quem é o astrônomo que mais provoca “confusões” nas pesquisas planetárias nos últimos anos? Além de um grande cientista, também é bom pai, ama gatos, usa meias fofas…

Mike Brown não se importa em ter matado Plutão, mas pode compensar quem odeia ele com um novo planeta
Mike Brown não se importa em ter matado Plutão, mas pode compensar quem odeia ele com um novo planeta

Para se ter uma noção do quanto Mike Brown é respeitado, basta dizer que há até um asteroide nomeado em sua homenagem. O 11714 Mikebrown é conhecido por ser excêntrico e não muito brilhante. A primeira característica pode até coincidir com o astrônomo, mas a segunda não condiz com a realidade – Brown já descobriu 36 objetos além de Netuno, sendo três já considerados planetas-anões (Éris, Makemake e Haumea). Ele é conhecido como caçador de planetas e parece até que sua missão é ter um planeta para chamar de seu.

A estatística de descobertas faz dele “o cara” para encontrar o novo planeta, correto? Não necessariamente. “Não creio que só eu possa achar o planeta. Para mim, muitas, muitas pessoas têm uma boa chance de achar ele”, diz Mike Brown em entrevista, de forma humilde.

Gatos e piadas

O astrônomo americano de 50 anos nascido no Alabama e formado na Universidade de Princeton é um caso à parte para quem imagina que cientistas podem ser “entediantes”. É só checar o Twitter de Mike Brown. O nome de usuário (@plutokiller, “assassino de Plutão”) já diz muito. Mas a interação com os internautas vai muito além. Piadista e carismático, conta com mais de 30 mil seguidores, que se divertem com as constantes brincadeiras entre seus 12 mil tweets, que, segundo ele, servem para “engajar, educar e conectar”.

Mike Brown e um de seus gatos: astrônomo posta várias fotos do felino no Twitter
Mike Brown e um de seus gatos: astrônomo posta várias fotos do felino no Twitter

No dia do anúncio de sua mais recente descoberta, por exemplo, compartilhou entre os seguidores uma foto de um desenho de sua filha em que o pai encontrava o planeta e nomeava em sua homenagem, Lilah. Uma semana depois, contudo, o tema já era mais do que brincadeira. “Esqueça o Planeta Nove: meu fisioterapeuta disse que eu finalmente posso tentar nadar para testar meu ombro hoje. Que dia memorável”, escreveu.

Em conversas com seguidores no fórum interativo Reddit, pede: “podem me perguntar qualquer coisa, inclusive sobre gatos. Especialmente sobre gatos” – fotos do felino são uma constante na rede social. Os detalhes sobre sua vida são muito compartilhados: desde caixas de cookies vendidas pela filha até fotos da meia do dia fofa que está usando. O cara realmente sabe ser midiático e encanta até quem o odeia por ter rebaixado Plutão.

Vida e morte de Plutão

“As pessoas em geral definitivamente parecem mais felizes com este estudo de agora”, admite, em tom de brincadeira, o astrônomo. Realmente: o rebaixamento de Plutão não agradou muita gente. O culpado foi o próprio Mike Brown: a descoberta de Éris pelo astrônomo em uma região próxima do ex-nono planeta levou a IAU (União Internacional de Astronomia) à uma encruzilhada: ou elevava Éris a planeta ou rebaixava Plutão. A decisão foi rebaixar Plutão a planeta-anão. Foi Brown quem primeiro propôs que um planeta deveria ser “qualquer corpo cuja massa é maior do que a total dos outros corpos celestes em volta”, o que não ocorria com Plutão.

Mas Mike não se importa com os críticos e “viúvas” do ex-planeta. Pelo contrário: samba na cara deles. Não à toa, seu nome no Twitter é o citado Pluto Killer. O astrônomo ainda escreveu um livro em que conta detalhadamente como foi o “crime”: ‘How I Killed Pluto and Why It Had It Coming’ (Como matei Plutão e porque ele mereceu, em tradução livre) caiu no gosto de editores de literatura e foi recomendado por jornais como o The Wall Street Journal e o New York Times.

A questão Plutão ainda é alvo de muita polêmica, mas cada vez mais os astrônomos se conformam com a reclassificação. Na época da discussão quente sobre o tema, um grupo, liderado pelo astrônomo da Nasa (Agência Espacial Norte-Americana) Alan Stern, chegou até a criar uma petição para a volta de Plutão à categoria de planetas, mas nada feito. Para Brown, o planeta nove é só mais uma prova de que a decisão foi correta. “A maioria dos astrônomos concorda comigo, só há uma pequena, mas barulhenta, minoria. Aquela foi com certeza a melhor decisão. Acredito que o próprio Planeta Nove mostra isso”, conta.

Caçador de planetas

Entre os curiosos termos que usa para se definir no Twitter, um se destaca: “caçador de planetas”. Talvez nada pode definir melhor Mike Brown, que já “bateu na trave” com as descobertas de vários objetos grandes que se tornaram outros corpos celestes. É daí que vem o respeito do professor do Instituto de Tecnologia da Califórnia, citado por outros astrônomos.

“Eu não sei se é o maior (astrônomo), mas é um dos maiores especialistas do espaço além de Netuno, de procurar coisas que estão muito distantes. Tem que ser levado a sério”, opina Gustavo Rojas, astrônomo da Universidade de São Carlos.
“É um cara que está focado nessas coisas (descobertas de objetos longínquos), descobriu vários. Ele tem uma experiência muito grande nesse sentido”, diz o também astrônomo Rodney Gomes, do Observatório Nacional, que realizou um estudo anterior sobre um novo planeta semelhante ao do colega norte-americano.

A tal caça aos planetas pode tornar Mike Brown em um obsessivo? O próprio astrônomo assume que sim. “Nunca pensei desta maneira, mas pode ser que seja uma obsessão. E eu definitivamente acho que o sonho está próximo”, afirma. A obsessão é tamanha que ele criou um site onde discute opiniões sobre o assunto – até aponta “razões para a não existência do Planeta Nove”, mas sempre ressalta que acredita quase totalmente na existência dele.

Pode ser que o astrônomo, contudo, não tenha alcançado o resultado sem a ajuda de Konstantin Batygin, coautor do estudo que consumiu dois anos da vida de ambos. De origem russa, Batygin é considerado por muitos a “próxima estrela” da física, termo que o parceiro mais famoso corrobora. Mas o nome de Mike Brown entre os autores do estudo é o que rendeu manchetes ao redor do planeta. E, no fim, o “assassino de Plutão” pode ser o mesmo que “dará vida” a um novo planeta. Será perdoado, então?

 

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