Calma! Existência de nono planeta pode demorar anos para ser comprovada

O anúncio de evidências fortes da existência de um novo planeta no Sistema Solarmexeu com os amantes da astronomia (e até com quem só lembra da “morte” de Plutão). Mas antes de mandar um beijinho no ombro para o planeta-anão, que foi rebaixado em 2006, é preciso ter cautela.

Como será a caçada ao novo planeta? Você poderá participar?
Como será a caçada ao novo planeta? Você poderá participar?

A busca pelo chamado planeta X existe há anos e agora encontrou-se uma evidência mais aceitável, mas ainda estamos longe de comprovar sua existência. Como explica o coordenador do Observatório da Univap (Universidade do Vale do Paraíba), Cássio Leandro Barbosa, os cientistas indicaram os “melhores indícios [da existência do planeta] até agora, mas não dá para dizer [que é um novo planeta], isso está longe”.

Pesquisadores  do Instituto de Tecnologia da Califórnia criaram uma explicação para as órbitas alinhadas de seis astros que ficam no cinturão de Kuiper: um planeta que não conhecemos. Pelas contas, a existência de um planeta que demoraria 15 mil anos para girar em torno do Sol, e teria sua órbita oposta a dos oito planetas do Sistema Solar, seria a resposta. Veja abaixo o que o astrônomo explicou:

 – Podemos dizer que há um novo planeta com certeza ou o estudo indica apenas uma evidência?

Cássio Leandro Barbosa – São indícios. Os melhores indícios até agora. Mas não dá para dizer [que é um novo planeta], [isso] está longe.

UOL – Já houve outros estudos, que eram chamados de controversos, e apontavam para a possibilidade desse planeta. O que mudou das dúvidas anteriores para agora?

Cássio – A sacada do Konstantin Batygin e do Mike Brown é que eles analisaram a órbita de vários desses objetos do cinturão de Kuiper que vão lá para o fundo do Sistema Solar, mas passam pela órbita de Netuno. E sacaram que essas órbitas eram muito parecidas e não seria obra do acaso elas estarem alinhadas. O que eles fizeram foi inventar um planeta hipotético e várias órbitas, com várias massas. De repente, ele achou uma órbita na qual os cálculos matemáticos mostravam que a perturbação do planeta conseguia alinhar as órbitas dos objetos.

Astro seria 10 vezes mais maciço do que a Terra, com órbita de 15 mil anos. Alinhamento de objetos além de Netuno seria 'rastro' trilhado pelo planeta.

Astro seria 10 vezes mais maciço do que a Terra, com órbita de 15 mil anos.
Alinhamento de objetos além de Netuno seria ‘rastro’ trilhado pelo planeta.

 – Como nunca vimos o planeta? 

Cássio – O planeta estaria muito afastado, teria um brilho muito pequeno, e se mexeria muito pouco (relativamente). Podemos até estar vendo ele, mas como não se mexe, você acha que ele não é um planeta, é uma estrela. Aí teria que voltar um mês [nas observações]. Esse tempo entre uma observação e outra pode levar meses, anos.

 – O estudo foi baseado em seis objetos que fazem uma órbita considerada estranha. Não podem ter outros objetos na região que mudariam essas estatísticas?

Cássio – Eu li uma crítica exatamente disso, de outro astrônomo que não estava envolvido. O estudo tem um nível de confiança estatístico de 3 sigmas, o mínimo para dizer que isso é confiável. Alguns só aceitam 5 sigmas. Ele só consegue esses 3 quando pensa nesses seis objetos. E existem outros? Sim, mas ele descartou na análise para conseguir esse nível de confiança.

– Ele faz uma órbita possivelmente bem diferente do Sistema Solar conhecido. É possível ter outros planetas nesta mesma órbita ou em outras semelhantes ainda desconhecidas? Um 10º. 11º…

Cássio – Ai é o ponto que a gente está. Se aconteceu mesmo de esse planeta ter sido formado no nosso sistema e ser puxado para fora, será que não aconteceu com mais outros? É um ponto bem nebuloso para se dizer. Eu acho bem improvável, nesses puxões é mais fácil ir embora [do sistema], como cometas.

 – Dessa possibilidade de planeta até a real descoberta, quanto tempo pode passar? 

Cássio – A revista Science deu um chute de cinco anos, mas é imprevisível. Agora, todo mundo vai procurar e isso vai facilitar. Acho que essa escala de cinco anos é bem flexível, pode ser até menos. Em cinco anos, o primeiro dos super-telescópios vai ser inaugurado no Chile. Se nenhum outro achar até lá, com esse vai ser mais fácil. O planeta está muito longe, um ponto de luz bem fraco. E como ele não se mexe ao longo de vários meses, não tem como chamar a atenção. Ele já deve ter sido observado, mas como não se mexeu, foi descartado.

 – Quem nomeia o novo planeta? 

C.L.B – Quem descobre é que tem a primazia de dar o nome. Aí vai ser o cara que previu a órbita e o que descobriu, vão ter que entrar em acordo.

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